Céu / El Dorado
2014 / 2006-2007
Danica Dakić em colaboração com os alunos e funcionários do Colégio de Santa
Inês, com o fotógrafo Egbert Trogemann
Em diálogo com a antropologia visual e a teoria da performance, Danica Dakić filma e fotografa em espaços limítrofes que definem tanto um estado de abertura estética quanto um método de trabalho.
Em São Paulo, seu ponto de partida é o delicado edifício de uma escola italiana tradicional no Bom Retiro, bairro de imigrantes. A arquitetura art nouveau em uma metrópole sul-americana moderna a impressionou de duas maneiras um tanto opostas. De um lado, por lembrar uma época que desapareceu e que, portanto, carrega uma memória distante e difícil de ser decifrada. De outro, para quem vem dos Bálcãs, região que sofreu tanta destruição ao longo do século 20, a existência dessa tradição arquitetônica em outras terras destaca uma possível “continuidade da não destruição”, como a artista mesmo a define. O filme chama-se Céu, como o último quadrado do jogo da amarelinha. A narrativa alterna-se entre crianças em uniformes antiquados, uma freira idosa sentada ao piano e uma garotinha correndo em volta do prédio, tocando música e brincando de amarelinha. O trabalho foi um processo aberto, para que as crianças pudessem usar o set de filmagem como um espaço produtivo e fictício; para que criassem uma viagem pelos universos e tempos paralelos em que o “céu” não é apenas um quadrado pintado no chão ou um conceito de vida após a morte, mas um lugar de ação, entre o sonho e o trauma.
Em El Dorado, o papel de parede panorâmico do século 19 com o mesmo nome serve de pano de fundo para que jovens de um abrigo de refugiados se apresentem no Museu de Papel de Parede de Kassel, Alemanha. Na galeria do museu, dois tempos históricos se encontram: o passado colonial de países europeus coletando imagens de um mundo conquistado e, como consequência do primeiro, a presente mobilidade forçada desses jovens. Dakić convidou os protagonistas a pensar performaticamente e modificar sua existência particular nesse ambiente incomum. Livres para dançar, correr e cantar rap, seus corpos não estão mais sujeitos à inscrição do poder absoluto – ao contrário, são portadores e produtores de ideias, utopias e, com isso, de opções para ação. – BS/GE