Dark Clouds of the Future
2014
Prabhakar Pachpute
A imagem do cartaz da 31ª Bienal de São Paulo, desenhada por Prabhakar Pachpute, é uma frágil estrutura no formato de torre de Babel ou concha, contendo um conjunto de corpos humanos dos quais vemos apenas os pés descalços e partes das pernas. Ela nos faz pensar as relações entre o visível e o invisível, a coletividade e o conflito, o trauma e o sublime, o forte e o fraco, e equaciona a resistência poética da arte face à adversidade do mundo.
Os mesmos motivos estão presentes em Dark Clouds of the Future [Nuvens escuras do futuro], o trabalho com que Pachpute contribui para a exposição. Os desenhos murais se estendem até o espaço em torno deles, incorporando com humor leve, imperturbável, seus adereços e particularidades. Um prego enferrujado, paredes úmidas, um soquete elétrico são absorvidos pelo seu desenho, criando metáforas intensas, inesquecíveis. O uso de esculturas tridimensionais feitas de cerâmica e papel-machê e de um filme de animação que deve muito às técnicas artesanais de montagem acrescenta dimensões conceituais e formais aos desenhos.
Sem dúvida, o uso do carvão como material de desenho é proposital e está associado às atividades dos mineiros de carvão. Entretanto, o suporte não age apenas como uma ponte entre o físico, literal, e o político, mas é também o suporte do pensamento, para alguém que quase foi um mineiro.
O trabalho de Pachpute parece viver numa fronteira entre imobilidade e movimento, que põe a concretude dos traços de carvão em confronto com o intangível e o mundo onírico em que se vive “lá longe e embaixo”.
As minas de carvão fazem eco à cidade em que ele nasceu, Chandrapur (Maharashtra, Índia), também conhecida como “a cidade do ouro negro”, e aparecem agenciando conflitos pessoais e políticos que se revelam nos títulos do artista, como Canary in a Coalmine [Canário em uma mina de carvão] (2012) – referência aos mineiros que levavam canários para o interior das minas como alerta dos gases tóxicos e The Land Eaters [Os comedores de terra] (2013). Com cada trabalho, Pachpute sonda terreno novo, novas saídas, novos modos de ser coletivo, que ele descobre, frequentemente, na vida intelectual dos próprios mineiros. – MM