Espacio para abortar
2014
Mujeres Creando
A contribuição de Mujeres Creando – coletivo de ativistas urbanas, feministas e anarquistas, com bases nas cidades de La Paz e Santa Cruz de la Sierra, Bolívia – para a 31ª Bienal é um espaço para abortar. O projeto consiste em uma intervenção urbana, passeata-performance pública e participativa, contra a ditadura do patriarcado sobre o corpo da mulher. A ideia é promover um ambiente de discussão e diálogo com a ajuda de um enorme útero ambulante, temporiamente estacionado no Pavilhão da Bienal. Em pauta, as implicações do aborto, da colonização do corpo feminino e o que pode significar a decisão soberana, o livre-arbítrio e a liberdade de consciência em uma democracia contemporânea, como a de nossos países sul- -americanos, nos quais o aborto é ilegal e penalizado.
No decorrer da exposição, são incluídos no projeto materiais e vozes do contexto local, a fim de identificar e mobilizar um “útero” coletivo como espaço de enunciação que incube todas e todos. Um útero coletivo em São Paulo é brasileiro, boliviano, português, italiano, japonês, tem várias cores e vínculos culturais heterogêneos, tem um passado colonial e integra fluxos de migração globais em uma realidade industrial, contra o pano de fundo de um dos maiores centros financeiros do mundo contemporâneo.
Fundado em La Paz em 1992, Mujeres Creando é um movimento autônomo (constituído por prostitutas, poetas, jornalistas, vendedoras de mercado, empregadas domésticas, artistas, costureiras, professoras etc.) em luta contra o sexismo e o patriarcado institucionalizado, tanto na Bolívia quanto no resto do mundo. Com essa finalidade, as integrantes de Mujeres Creando atuam como guerrilheiras, abrindo espaços de visibilidade e descobrindo outros com seus próprios corpos; na rua, nos meios de comunicação e nos espaços da arte contemporânea internacional, inserindo em seus circuitos ideológicos frases icônicas como: “Não se pode descolonizar sem despatriarcalizar!” ou “Não há nada mais parecido com um machista de direita que um machista de esquerda!”. – MJHC