2010 / 2014
Yuri Firmeza
Em A fortaleza, Yuri Firmeza reencena a fotografia de infância em que ele faz a pose clássica do halterofilista, dobrando os braços e tensionando os músculos para demonstrar sua força. Entre uma imagem e outra – um intervalo de quase duas décadas – além do crescimento do menino, agora adulto, chama atenção a mudança radical da paisagem de fundo. Em uma foto, vemos casas, poucos prédios e um horizonte ao fundo; na outra, prédios mais altos preenchem os espaços outrora vazios. Mal se vê ao longe em Fortaleza, cidade onde o artista mora desde pequeno. A cidade virou uma fortaleza edificada, e Yuri se apresenta diante dela fazendo graça com seu corpo esguio, ao mesmo tempo assumindo sua parte de responsabilidade como morador.
Essa reflexão sobre a memória e as experiências individuais, sobre o coletivo e o bem comum a um grupo de pessoas ou a uma sociedade aparecem em Nada é, mas o fluxo criativo deu-se ao contrário. O filme começou na pesquisa sobre a cidade de Alcântara como espaço de manifestação de projetos nacionais brasileiros de diferentes períodos e culminou na busca por sentidos pessoais, subjetivos e presentes para o legado do lugar. A cidade foi a primeira capital do estado do Maranhão, no século 18, e era habitada por barões da cana-de-açúcar e do algodão. Quando a economia colonial faliu, Alcântara entrou no ostracismo e só voltou à pauta nacional quando recebeu um centro de lançamento de foguetes da Força Aérea Brasileira, em 1990.
A tradicional Festa do Divino Espírito Santo, que acontece todos os anos quarenta dias depois da Páscoa, apresenta-se para o presente na cidade como o marco de suas vocações. Nesse hiato que ela vive entre o passado de prosperidade e a promessa de um futuro interplanetário, misturam-se discursos da ciência e da religião em torno de um mesmo ideário de fé naquilo que pode ser, mas, há algum tempo, ainda não é. – AMM