2011-2014 Bruno Pacheco
Nos dois conjuntos de imagens apresentados na 31ª Bienal, Bruno Pacheco continua uma pesquisa em torno da formação de coletivos e de seus diferentes modos de ação. Nesses conjuntos, agrupamentos de pessoas ocupam a totalidade das telas, naquilo que parece ser uma manifestação – talvez política, de confraternização ou com outra finalidade ou motivação.
As imagens de Meeting Point [Ponto de encontro], ao nos posicionarem à parte dessas reuniões, como voyeurs, fazem-nos pensar a natureza dos coletivos e as formas de participação e visibilidade que eles têm tomado no espaço urbano. No contexto da instabilidade econômica e sociopolítica que tem marcado o início do século 21, os coletivos têm modos de mobilização distintos daqueles que formaram o imaginário das “revoluções” dos séculos anteriores. Com pouca ou nenhuma hierarquia, sem um centro emissor que organize o movimento, reúnem-se e dedicam parte de seu tempo a um objetivo. Não adivinhamos, porém, se esses grupos existem para serem percebidos por outros ou se existem para si mesmos. Essa natureza fragmentada e aleatória dos coletivos é transmitida por Bruno Pacheco através de uma remissão contínua dos trabalhos que apresenta na Bienal, implicando os olhares do público no jogo da montagem.
Seja como resultado ou como processo, a organização do trabalho em séries revela um entendimento da pintura como sistema linguístico em contínua elaboração. Nele, as imagens não têm um fim em si, e as sequências e as repetições são concebidas para serem repensadas e reinterpretadas, com o propósito de engendrarem a construção pública e social de sentido. A luta é realizar qualquer coisa de singular e de profundo a partir do movimento real das abstrações sociabilizadas, que tende à repetição de fórmulas.
Desde que as fronteiras entre as várias práticas artísticas se tornaram permeáveis, uma das principais características da pintura contemporânea é a contínua “remediatização”, ou seja, a tomada de propriedades atribuídas a outros meios. No caso de Pacheco, é a fotografia, nos seus diversos suportes impressos ou virtuais, recentes ou mais antigas, que constitui uma base referencial para a construção das pinturas. – MM