2014 / 2012-2014
Tony Chakar
Tony Chakar pertence a uma geração de artistas e intelectuais libaneses cujas preocupações mais urgentes são a guerra e o pós-guerra no Líbano, e em seu caso particular, de que modo esse passado ressurge no presente para definir um espaço-tempo catastrófico. A memória como prática performativa é ativada em seu trabalho por meio de imagens e textos selecionados de fontes variadas, desde narrativas pessoais até referências literárias, mitológicas e bíblicas. Para ele, as imagens-textos são a manifestação dos fantasmas do passado (memória) em nosso mundo, da mesma forma que os velhos ícones cristãos eram a manifestação do sagrado no mundo do profano.
On other worlds that are on this one [Sobre outros mundos que estão neste] é um trabalho construído de imagens produzidas com seu celular. Arquiteto por formação, as fotos de Chakar normalmente não contêm pessoas, embora insinuem algo peculiar: ao processá-las em seu computador, um programa de reconhecimento facial é imediatamente acionado, às vezes identificando não rostos, mas objetos como rodas de carro ou partes de uma fachada de edifício. É nessa “falha técnica” que o artista está interessado. Está certo de que sempre que tentamos traduzir algo de nosso mundo físico para um ambiente hipertecnológico, que se baseia exclusivamente em quantidade, problemas técnicos como este estão fadados a ocorrer. São rupturas no continuum hiper-racional infinito e homogêneo da tecnologia. Em outros tempos, os místicos os teriam identificado como “momentos de visão”, porque criariam uma cisão em nosso mundo que daria um insight sobre o “outro” mundo.
Imagens encontradas em um contexto tecnológico também estão no cerne da palestra-performance One Hundred Thousand Solitudes [Cem mil solidões]. Esse trabalho examina imagens das revoluções árabes e de diferentes movimentos de ocupação no mundo inteiro. Elas captam singularidades, momentos únicos, que levam à declaração do advento de tempos messiânicos, porém, sem um messias: mortos voltando à vida, rios transformando-se em sangue, pessoas que falam uma só língua, os últimos se tornando os primeiros, a inversão da ordem histórica, homens transformando-se em mulheres e vice-versa. Tais imagens não foram observadas em primeira mão, mas através das mídias sociais (principalmente Facebook e YouTube) – NEM/TC