2014
Graziela Kunsch
Este trabalho consiste na proposta para a prefeitura de São Paulo de colocar um ônibus gratuito, sem destino conhecido, para circular pela cidade durante os meses da 31ª Bienal. No espaço em que se escreve o destino do ônibus estaria a expressão “tarifa zero”. Esse ônibus pegaria e deixaria passageiros em pontos de ônibus existentes e não passaria pelo prédio da exposição (não se trata de um ônibus para facilitar o acesso a ela). Poderia até passar pelo Parque do Ibirapuera, mas isso não seria tão importante. Mais importante, seria sugerir que o próprio deslocamento é lugar e estimular outra forma de as pessoas se movimentarem.
Em “A liberdade da cidade” (2013), o geógrafo David Harvey defende que o direito à cidade não pode ser reduzido a um direito de acesso aos espaços urbanos existentes. Ele é, antes, o direito – e a responsabilidade – de refazermos a cidade; um direito ativo de fazer uma cidade diferente a partir de nossos desejos. Ao adotar a imagem de um ônibus sem catraca (ou sem tarifa) como uma direção, essa obra colabora na construção coletiva de outro imaginário de cidade, em diálogo com o acúmulo de luta do Movimento Passe Livre, que em breve completará dez anos.
Não há como saber, no momento de redação deste guia, se a prefeitura concordou em realizar a obra, ou se foi necessário adaptá‑la. Mas o Ônibus Tarifa Zero pode existir ao menos como um projeto – ou como um horizonte, um destino –, num esforço de imaginação coletiva radical. – GK