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Resimli Tarih

1995
Gülsün Karamustafa

Pouco depois de se formar, em 1969, Gülsün Karamustafa foi condenada por esconder um fugitivo político em sua casa em Istambul e teve seu passaporte cancelado até 1987. Foi um período de migração em massa da zona rural para a cidade, levando à criação de grandes e precários assentamentos nos subúrbios. O embate entre a cultura anatoliana dos recém-chegados e a vida urbana produziu formas culturais híbridas conhecidas como arabesk, em referência ao gênero musical que popularizou canções comerciais de influência asiática entre as classes baixas. Tendo entrado em contato estreito com essa cultura kitsch ao trabalhar como diretora de arte em filmes, na segunda metade dos anos 1980, a artista começou a usar tapeçarias encontradas em casas de migrantes em uma série de colagens têxteis que lhe renderam o rótulo de “pintora de arabescos”. Esse epíteto sutilmente depreciativo revela a provocação inerente ao uso do imaginário popular pela artista, que foi abruptamente descartada pela intelectualidade de classe média a que pertencia.

Embora permeada pelo uso da colagem têxtil dessa série anterior de trabalhos, Resimli Tarih [História ilustrada] responde ao novo contexto global iniciado depois da queda do muro de Berlim. Trata-se de uma colagem de sete metros de comprimento costurada à mão, que assume a forma de um caftã – uma longa túnica acinturada que passou a simbolizar poder e riqueza durante o Império Otomano. Embora as ilustrações vivamente coloridas de vegetação luxuriante, pavões, servos robustos e palácios suntuosos evoquem a iconografia imperial, os tecidos estão longe de ser opulentos e o trabalho desordenado de retalhos está em conflito com o desenho elegante dos caftãs otomanos.

Após a súbita desintegração da União Soviética, Karamustafa junta os restos de outro império tombado em uma arqueologia visual informal, em que os retratos em miniatura de sultões coexistem com fragmentos de tapeçarias kitsch, veludo sintético e tecidos de seda encontrados a preços baixos nas ruas de Istambul. Em uma escala monumental, a obra presta tributo à canibalização de formas e símbolos outrora hegemônicos da cultura popular, ao mesmo tempo que lamenta o fim de uma era. – HV

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